Frei José Mariano da Conceição Veloso: Uma triste parte da saga botânica brasileira

Exposição ante o Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei, em defesa da Patrona da Cadeira 16, realizada por Wanderley Mario Guilherme (Wangui)

Frei Veloso – Foto: Divulgação

1 – OBJETIVO

Cumprir o Estatuto ao apresentar um resumo da vida e a obra do patrono da Cadeira 04, Frei José Mariano da Conceição Velloso, para a qual fui eleito pelos confrades (frequento o IHG-SJDR desde 1991 e eleito em 2002).

2 – APRESENTAÇÃO

Apresento o resultado dos meus estudos sobre essa figura reconhecida entre os naturalistas brasileiros como aquela que mais se empenhou no estudo de nossa flora. Homenageio, pois, o Frei José Mariano da Conceição Vellozo, que ocupa lugar de destaque pela sua obra monumental, especialmente a intitulada “Flora Fluminensis”, terminada em 1790. Espero com esse esforço ter me tornado uma pessoa melhor e mais feliz por compartilhar isso com os confrades desse sodalício.

Frei Veloso nasceu em 1741, na então `Província de Minas Gerais, Comarca do Rio das Mortes, na freguesia de Santo Antônio da Vila de São José del-Rey, Bispado de Mariana.

Filho de José Vellozo da Câmara e de Rita de Jesus Xavier, por isso primo de Joaquim José da Silva Xavier, conhecido como Tiradentes.

Bem jovem se sentiu atraído ao estudo das ciências naturais, principalmente uma forte predileção pela Botânica. Fala-se que mais do que qualquer outro tipo de leitura gostava Frei Veloso do “livro da natureza”, fazendo muitas vezes, com seus companheiros, excursões botânicas, entranhando-se nos bosques a procura de flores, a fim de pesquisar lhes os nomes e botar-lhes as diferenças morfológicas. Apesar de nunca ter tido mestre, conseguiu em pouco tempo aprender muito sobre as principais plantas do lugar em que nasceu.

Em 1761, portanto aos 20 anos, tornou-se franciscano no Convento de São Boaventura, em Macacu, tendo sido ordenado no Convento de Santo Antônio, do Rio de Janeiro, onde estudou Filosofia e Teologia.

Foi nomeado pregador em 1768 e em 1771 já era professor de Geometria, Retórica e História Natural no Convento de São Paulo. Das ciências que lecionou, nenhuma lhe agradava tanto como a História Natural, já que, naturalista por vocação, transformou “seu claustro em um museu herbário, cultivando sua dedicação aos estudos botânicos”.

No ano de 1779 veio governar o Brasil, na qualidade de vice-rei, um português distinto, chamado Luiz de Vasconcellos e Souza. Tendo notícias da predileção e do raro talento de Frei Veloso pelas Ciências Naturais, principalmente pela Botânica, pediu ao então provincial Frei José dos Anjos Passos para que Frei Veloso fizesse excursões em toda a Capitania do Rio de Janeiro e reunisse o resultado de suas pesquisas numa obra conjunta.

Surge então a fase mais importante da vida do ilustre frade naturalista. Durante oito anos consecutivos vemos o incansável pesquisador subir as serras mais altas, descer aos mais profundos vales, e emaranhar-se nos vastos e inextrincáveis bosques. Percorreu as matas e praias do Rio de Janeiro em todas as direções, subiu a serra de Paranapiapaba e Parati, visitou as quinze ilhas do Rio Paraíba do Sul, conseguiu levar a cabo suas investigações, reunindo o fruto de suas pesquisas em trabalhos magníficos, alentados em tamanho e de imenso valor científico, por ele intitulados “Alographia dos Alkalis Fixos Vegetal ou Potassa, Mineral ou Soda e dos seus Nitratos” e “Flora Fluminensis”.

Em 1790 foi a Lisboa, quando começou a classificar espécies da flora e fauna, enquanto trabalhava no Real Museu e Jardim da Ajuda e na Academia Real das Ciências de Lisboa.

A sua produção cientifica é bem representada, pois, pelas suas três principais obras:

  • Alographia dos Alkalis Fixos Vegetal ou Potassa, Mineral ou Soda e dos seus Nitratos (as melhores memórias estrangeiras);
  • Flora Fluminensis;
  • O Fazendeiro do Brasil.

A de maior repercussão é a segunda e cito do texto da Prof. Elisabete Barbero Bonfim “a obra gigantesca, trazendo as descrições e figuras de 1.640 vegetais brasileiros, incluindo também inúmeras indicações ecológicas, representa um esforço notável para aquela época, pois foi terminada em 1790. Infelizmente só 35 anos mais tarde, ou 14 anos após a morte de Frei Veloso, é que se deu início à sua publicação.

Consta a “Flora Fluminensis” de onze volumes em fólio, com suas estampas originais executadas a tinta, juntamente com dois volumes manuscritos do texto. Depois de terminada a obra, seu autor foi apresentá-la à Corte de Lisboa. A obra provocou a admiração de todos.

“De 1799 a 1801 tornou-se diretor da Oficina Typographia Chalcographica, Typoplastica e Literária do Arco do Cego, em Lisboa” onde produziu a sua célebre obra “Flora Fluminensis”.

Em 1809, Frei Veloso retorna ao Brasil, trazendo consigo os originais dos manuscritos e das estampas da “Flora Fluminensis”. A partida de Lisboa foi motivada pela marcha progressiva do exército francês, na Península Ibérica. Dom João VI veio refugiar-se na Terra de Santa Cruz, e Frei Veloso seguiu os passos do seu benfeitor, recolhendo-se no Convento de Santo Antônio do Rio de Janeiro, onde veio a falecer a 13 de junho de 1811, sem ter tido a satisfação de ver publicada a sua grande obra.

Todos os manuscritos e impressos pertencentes ao espólio de Frei Veloso foram oferecidos ao Príncipe Regente pelo então Vigário Provincial dos Franciscanos do Rio de Janeiro. A oferta foi aceita, segundo consta no volume III do “Tombo Geral da Província” (manuscrito), à página 208. Os livros e manuscritos de Frei Veloo deram entrada na Real Biblioteca em 13 de novembro de 1811. Entre eles se achavam todos os originais da “Flora Fluminensis”.

Muito tempo se passou e a obra caiu no esquecimento geral. Os manuscritos da “Flora Fluminensis”, “foram descobertos em 1825 na Biblioteca Imperial pelo então bibliotecário Frei Antônio de Arrabida” que “em carta solene enviada a Dom Pedro I, descreve a emoção que sentiu ao encontrar os manuscritos da Flora Fluminensis e solicita ao Imperador a publicação do texto aqui no Brasil, oferecendo-se para as devidas correções de impressão. Foram enviados a Paris os desenhos para serem ali litograficamente estampados, pois não havia ainda no Brasil técnicas adequadas a esse tipo de trabalho”.

Em 1825, efetuou-se na Tipografia Nacional do Rio de Janeiro a impressão quase total da Flora Fluminensis. O volume, que hoje é uma raridade bibliográfica, abrange 352 páginas e versa sobre 309 gêneros. A impressão das 1.640 estampas, começada em 1827 em Paris, levou quatro anos e quatro meses para ser terminada. Quando os últimos fascículos já estavam em fase de impressão, ocorreu a abdicação de Dom Pedro I, em 1831″.

A autora cita que no livro “Fitografia ou Botânica Brasileira”, de Melo Morais (1881), “consta um capítulo sobre a História da Flora Fluminensis, que se refere ao triste destino que tiveram os exemplares dos 11 volumes das estampas. Diz ele: “Acabada a obra, consta-me que se mandaram para o Rio de Janeiro 500 exemplares; ficando em Paris 1.500, os quais, não sendo reclamados, foram entregues não sei a quem, e dos quais salvaram-se algumas coleções; e por fim, se reconhecendo que essas estampas não eram mais procuradas, foram vendidas ou dadas ao chapeleiro que fornecia barretinas (chapéu) para o exército francês, o qual forrou com as estampas as barretinas que estava fazendo para os soldados do exército. Os 500 exemplares que vieram para o Rio de Janeiro foram parar no saguão da Secretaria de Estado dos Negócios da Justiça (em frente ao Passeio Público), onde permaneceram apodrecendo, pela umidade”.

E mais adiante diz o mesmo autor: “No dia 14 de janeiro de 1861, a Tipografia Nacional anunciou a venda em leilão de 2.950 arrobas de impressos, indo entre eles alguns exemplares da Flora Fluminense”. E termina dizendo: “É digno de reparo, e contrista o coração dizer-se, que no Brasil se vende como papel velho, o produto da inteligência e da arte, adquirido com tantas fadigas e trabalhos, com o qual o Estado gastou muito dinheiro, para com ele fazer-se papel de embrulho”!

Sobre seu livro “O Fazendeiro no Brasil” pouca informação foi encontrada. Nele o autor sistematizou, de forma precursora, os conhecimentos técnico-científicos que, se seguidos, poderiam melhorar a produção e a produtividade da agricultura nacional o que, como podemos apreciar com o sucesso atual do agronegócio, tornou-se realidade.

Os tristes caminhos da Ciência no Brasil Colônia: Em suas conclusões, a escritora já citada afirma que “cumpre dizer que a Flora Fluminensis, cuja história, em parte, foi uma verdadeira tragédia, representa uma obra monumental, que não apenas suscita interesse histórico, mas tem também alto valor científico. Frei Veloso foi um dos grandes pioneiros da botânica brasileira. Seu nome figura sempre com brilho ao lado dos maiores botânicos que o Brasil possui.

3 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

Essa apresentação ocorre no contexto mais amplo das comemorações dos 300 de fundação de São José del-Rei, terra natal do patrono aqui homenageado, atualmente Tiradentes, cidade-irmã de São João del-Rei. Ambas se irmanaram, lá no Século XVIII, na luta pela formação da província das Minas Gerais, contribuindo para a construção do sentimento de mineiridade, cujo melhor representante é o patrono nesse Instituto, o Alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, de quem, lembro, o nosso homenageado é primo.

4 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BÁSICAS

Dúvidas: data correta de nascimento; data correta de falecimento. Por pesquisar e esclarecer.
José Mariano da Conceição Veloso – Wikipedia; “Quinografia Portugueza (1799)”.
BONFIM, Elisabete Barbero, “Frei José Mariano da Conceição Vellozo – 1741/1811”, Wikipédia;
MELO MORAIS, (…) “Fitografia ou Botanica Brasileira”, 1881.

5 – ANEXOS

Quadro, de minha autoria, numa releitura de retrato do homenageado.
Reprodução de capa do livro “Alographia dos Alkalis Fixos…”
Reprodução de capa do livro “Flora Fluminense”
Vídeo do Programa Terra de Minas – Globo Minas – 21/04/2018 – “Pesquisadores catalogam plantas da Serra de São José” com base nos estudos do Frei Veloso.

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